sexta-feira, 24 de junho de 2016

O que aprendi com a morte.


Hoje a morte veio me visitar, e ela é a pior visita que pode aparecer na vida, a pior e a mais educadora também. Engraçado que a brevidade dessa caminhada é a única certeza que temos, mas vivemos como se não soubéssemos disso, vivemos achando que seremos eternos, juntamos tesouros mais passageiros que o vento, construímos castelos de areia todos os dias, e constantemente, ao dar atenção às coisas efêmeras esquecemos o que importa de verdade.
Hoje a morte veio me visitar, sentou a mesa comigo, arrancou dos meus braços mais um alguém que eu amo e me ensinou silenciosamente inúmeras coisas sobre o valor e a brevidade da vida. Me tirou o ar e o chão, tirou parte de mim, e abriu feridas de antigas perdas, me fez sentar e abriu meus olhos para a vida que eu deixo escorrer pelos meus dedos todos os dias.
Hoje a morte veio me visitar, e me disse com um olhar que eu não sou imortal, que eu preciso aproveitar meus pais, meu irmão, meus avós, meus tios, primos e amigos, pois eles também não são. Ela me perguntou e me fez lembrar que coisas ficaram daqueles que partiram, que tipo de recordação eu havia guardado deles, e eu não precisei pensar muito para responder que eram os sorrisos, as músicas, os abraços, as conversas que jogamos fora, o exemplo e a força, o amor, que sempre podiam ter acontecido mais vezes, não fosse o desperdício do maior tesouro que temos: o tempo.
Hoje a morte veio me visitar e não disse nada, eu não disse nada, mas tanta coisa se esclareceu, e doeu, e dói, e ainda vai doer pra sempre. Percebi que eu não quero perder tempo, e queria gritar para o mundo, ensinar ao mundo o que aprendi nessas visitas, mas o mundo não tem “tempo a perder” com essas coisas, todos estão apressados demais para parar e conversar uns com os outros, nós infelizmente só escutamos quando a própria morte vem nos ensinar com a dor, com o luto e a ausência. Vejo tanta gente ocupada em semear o ódio, inventar diferenças entre as pessoas, se importar com o pecado do outro, e apontar, segregar, ao invés de dar as mãos e de abraçar. E, nessas horas, a morte ensina o quanto tudo isso é nada.

A morte foi, levou mais uma parte de mim, e eu percebi que crescer é administrar perdas. Ficou a saudade, o vazio que nada preenche, um gosto amargo na boca, mais um dia cinza no calendário, mais uma ferida aberta no coração, e a lição de que não precisamos ter pressa, mas não podemos perder tempo. Amemo-nos, a vida é curta demais e não podemos deixar para aprender sobre o amor, ou sobre a vida com a visita da morte.

Débora Kelly